setembro 25, 2010

Encontro com o destino

 Quando descí da condução estava em uma rua mal iluminada. Éra um bairro pobre e o ar estava carregado por um odor de podridão. Alguma coisa não se encaixava naquele beco. Algo antigo, fora de qualquer tempo.
 Desci a pequena escadaria de degraus irregulares e logo pude perceber que minha intuição não me traia.
 La estava aquela figura, enrolada em um cobertor velho, visivelmente sujo e cheio de manchas que eu nem quero saber do quê. Seu rosto estava coberto por faixas quase grudadas em sua pele por uma secreção escura que escorria da sua testa. O cheiro que sentí quando cheguei sem dúvida era dele.
 Quando dei o primeiro passo em sua direção ele sorriu e disse:
- Ola garotinho. Está perdidinho, está ? Pude perceber um tom de malícia em sua voz quando arqueou seu corpo corcunda para me olhar mais de perto. Sentí nojo mas não fraquejei, dei mais um passo à frente e a criatura se surpreendeu com a minha atitude. Continuei a encara-lo de onde estava e a criatura esboçou um sorriso com seus dentes serrilhados e mal organizados em sua boca torta:
- Ah sim! Menino corajoso, você. Posso ver nos teus olhos que não é uma criança comum. Provavelmente também não me encontrou por acaso certo? O corpulento caminhou em minha direção e foi mudando a expressão enquanto ia percebendo que não me movia.
 O que quer de mim? - Disse trazendo sua caraça tão próxima da minha que a gosma escura que escorria pela sua boca quase respingou no meu rosto - Se não me disser o que quer vou devorá-lo agora! Ninguem notará seus gritos neste lugar. Esta é minha toca, minha pequena dimensão. Aqui eu faço as regras.
 Podia até dizer, mas estava me divertindo muito com aquela situação para fazer alguma coisa ...
Meus pensamentos estavam na vida que deixei para trás. Éra minha quarta vida. Das outras três vezes não me lembrava de nada, mas dessa vez me lembro muito bem ... algo aconteceu nesse caminho que de alguma maneira solidificou minha consciência em um espectro persistente. Talvez o vasto conhecimento que acumulei nas minhas existências anteriores, principalmente na última, quando começei a ter lampejos das duas outras anteriores. Minha fascinação pela vida e a minha gana em viver para sempre me levaram a um limite inimaginavel a qualquer ser humano. Estava muito além dos outros. Até mesmo aquela criatura que era superior às pessoas, estava distante de mim. Por isso pude encontrá-la e entrar tão facilmente em sua egrégora. Meu plano era me estabelecer nela e utiliza-la para me reestruturar.
Olhei firmemente nos olhos encobertos do monstro e disse:
- É melhor estar preparado.

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